Retornos são sempre sobre recomeços. Sobre tentativas infinitas de olhar para si mesmo. Sobre reencantamentos. Sobre origem. Sobre conectar partes partidas de si. Sobre natureza. Retornos também são sobre partidas. Partida também é encontro, reencontro, renovação. Imagem...
Para este retorno ao Juruá, depois de 14 anos, escolhi correr solta e com força, como água, sempre em movimento, viva, fluída.
Escolher retornar, me revirou a alma, me fez entrar na vida através de cada vida reconhecida, de cada casa que tomei um café, de cada olhar que me cruzou, em cada banho de rio, cada respiro, cada limite que me coloquei, em cada história que ouvi, na saudade que senti, na indignação própria de quem deseja transformar o mundo, no meu silêncio, na fala de outros, na impermanências dos encontros de passagem, na paisagem que se transformou em mim.
Em 2006 conheci a Amazônia, cheguei a região da RDS Uacari, ainda recém formada, neste rio Juruá, tudo era novo e já me fazia ser outra. Em 2008 retornei a mesma região conhecendo novas comunidades, mostrei as imagens de 2006 na ocasião, e agora levei as fotos de 2008 na tentativa de reencontrar essas pessoas, dentre outros projetos como retratos, vídeo doc e grupos terapêuticos.
Curioso andar em lugares já conhecidos e ainda assim não saber nada.
Saí de casa dia 11 de maio, e voltei dia 20 de junho. Embarcada no Hiléia, barco do Instituto Juruá, foram 26 dias, dormindo em rede, visitando comunidades, compartilhando cotidiano, lidando com desafios, fazendo rodas terapêuticas, entrevistando mulheres, fotografando, junto com uma equipe de mais 15 pessoas que eram a força dessa expedição.
Pessoas comprometidas com o humano, com a floresta, com a necessidade de manter a dignidade, acima de tudo. Foi uma experiência profunda, que transformou um pouco a todos.
E nesse transbordar de natureza, foi preciso coragem para retornar. E esse desejo de passado pode ser escancarado em afeto, que transpassa a casca, amolece a alma. A memória é caminho, é alimento. O enfrentamento perturba, mas é movimento. Dá medo, mas eu não preciso reter tudo. Posso extrapolar meus processos densos em escutas silenciosas, e me sentir presença.
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